Da
esquerda p/ direita: Jorge Rincon (Sebrae), Neli Medeiros (Redesol),
Edilson Martinez (CNM) e Silvano da Costa (MMA). Fotos: João Carlos
Diniz/ Árvore de Comunicação
Por Pedro Paturle
Vários
representantes de organizações de catadores materiais recicláveis
manifestaram-se contrários à incineração industrial do lixo, durante o
10º Festival Lixo e Cidadania. Esse processo queima os resíduos em
usinas e pode ser usado para geração de energia.
Existe
o temor de que os incineradores sejam instalados em Minas Gerais e no
restante do país como solução para o fim dos lixões previsto para 2014,
deixando os catadores de recicláveis sem trabalho, além de poderem
causar impactos ambientais e de saúde pública.
Um
dos problemas apontados pelos catadores é que a incineração necessita
de pelo menos 60% de materiais recicláveis para realizar a queima, já
que os resíduos orgânicos (“lixo úmido”) não têm poder calorífico, ou
seja, não pegam fogo.
Para
Luzia Maria Honorato, diretora da Coopercozi e MNCR, a incineração do
lixo pode colocar em risco a saúde das comunidades. “Incinerador é
perigoso sim. Os maiores doutores da USP já estiveram aqui nesse palco e
já disseram que é perigoso. Queremos esclarecimento. Temos o direito
de saber quais doenças que os incineradores vão trazer, não só para a
comunidade do entorno, mas pra toda a comunidade. Por que queimar algo
que traz pra nós um bem para o meio ambiente, um bem para a economa do
país e um bem para a geração de renda a quem precisa?” Ela defendeu o
uso de energia solar e eólica como fontes de geração.
Preocupação
A
diretora-presidente da Redesol, Neli Medeiros, mostrou seu
descontentamento com essa possibilidade. “A incineração é uma
preocupação pra nós. Nós sabemos que o nosso lixo, o nosso rejeito, é
muito molhado. Vão usar o nosso material (reciclável) para incinerar.
Nossa proposta é a não-incineração. Se lá fora eles não querem, porque a
gente vai querer? Até quando vamos cruzar os braços e deixar isso
acontecer? A gente olha o estado de São Paulo buscando isso e fica
fragilizada, porque a gente sabe que os nossos companheiros lá precisam
da nossa ajuda”, diz.
Caso de Unaí
O
presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), José Cláudio
Junqueira, explicou que o governo não facilitará a instalação de usinas
de incineração em Minas Gerais. “Para aqueles que estiveram aqui ano
passado, a partir da denúncia do caso de Unaí, a licença para
funcionamento da usina não foi aprovada, não está aprovada e não pode
funcionar. Ele nos procurou para dizer que queria fazer todas as
adequações para funcionar. Nós dissemos que só poderia funcionar se
montasse, antes da empresa, uma central de triagem e os catadores
puderem retirar tudo os que eles quiserem. Enquanto isso não for
resolvido, não terá autorização do estado para funcionar, portanto
permanece parado”, disse.
.
A lei
O
consultor da Área de Meio Ambiente da CNM, Edison Martinez, falou em
seguida: “A lei é muito clara nessa questão da incineração.
Obrigatoriamente na lei, tem uma hierarquia. Todo município que fizer o
seu plano tem que demonstrar que reutilizou o máximo, reciclou o
máximo que foi possível, e só depois pode fazer algum tratamento no
caso do resíduo orgânico e, quando for rejeito, pode ter planta de
valorização (incineração) do rejeito. Os órgãos ambientais têm papel
fundamental nisso. No Brasil é muito cara a operação de uma planta de
incineração. Como o município vai viabilizar a operação de uma planta
se ela não tem resíduo? É muito importante ficar atento porque a lei
tem alguns instrumentos para impedir. De fato, essa é uma preocupação
também do Ministério do Meio Ambiente.”
Silvano
da Costa, diretor de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente,
reforçou a posição do governo. “Não se pode instalar no município uma
planta de incineração que use resíduo passível de ser reciclado.
Sabemos que esses resíduos são exatamente os que têm maior capacidade
calorífica. Para a planta ser viável economicamente, a rigor tem que
queimar esse resíduo pra poder funcionar. Se essa planta coloca resíduo
reciclável para incinerar, é proibido. Dentro da lei, a usina só pode
ser licenciada depois de haver essa reciclagem.
Sobre
a recuperação energética a partir da incineração, explicou: “Dias 08 e
09 (dezembro) vamos ter a instalação de um grupo técnico que vai fazer
todos os estudos para aprofundar as diretrizes que o governo vai
emitir para a recuperação energética dos resíduos. De acordo com ele, a
recuperação energética do lixo pode ser feita não apenas pela
incineração, mas também por meio da biodigestão (biometanização),
processo em que o resíduo orgânico gera gás metano nos aterros
sanitários e pode ter recuperação energética. É o que acontece no
antigo aterro de Belo Horizonte, na BR-040.
Reciclagem e energia
Para
Alexandre Cardoso, rep. do Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Recicláveis (MNCR), o mais adequado hoje é a disposição do
lixo em aterros sanitários, com participação dos catadores na coleta
seletiva. “Além de contribuir com os catadores, ajuda a comunidade onde
o catador está inserido”, disse. Segundo Cardoso, há possibilidade de
aproveitar 80% a 90% dos resíduos gerados. Ele também demonstrou ser
contrário à geração de energia a partir da incineração. “É preciso
dizer que a reciclagem também gera energia”, salientou.
Fonte: http://www.planetalixo.com.br/?p=6951
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